segunda-feira, 25 de maio de 2020

Marfrig cria empecilhos para discutir acordo coletivo, mas obtém maior receita da história no primeiro trimestre

Diretor presidente do Marfrig destacou aumento da produtividade e exportações em dólar - REPRODUÇÃO
Primeira reunião entre Marfrig e sindicatos ocorreu em março - Arquivo STIA Bagé


      Depois de dois encontros e várias conversas entre a comissão de negociação e a empresa – o primeiro de forma presencial e o segundo por audioconferência – os sindicatos de trabalhadores nas indústrias de alimentação e o Marfrig não chegaram às bases para o Acordo Coletivo de Trabalho 2020/2021. O Marfrig alega dificuldades enfrentadas pela pandemia do novo Coronavírus para conceder um melhor reajuste a seus trabalhadores, além de querer modificar cláusulas que são conquistas históricas para seus empregados. Entretanto, a empresa apresentou o maior lucro da história no primeiro trimestre de 2020. A afirmação foi feita pelo próprio diretor-presidente do grupo, Miguel Gularte, em entrevista ao canal Band News. 
      A receita do Marfrig no 1º trimestre foi de R$ 13,5 bilhões, com uma margem que superou bastante a do mesmo período de 2019. Aliás, os números tornam os primeiros três meses de 2020 como os melhores da história da empresa no Brasil. Gularte, na entrevista, salienta que o Marfrig tem desempenho por conta da diminuição de custos e aumenta a produtividade. “Conseguimos seguir funcionando, tendo em vista que nós trabalhamos em um serviço essencial, que é a produção de alimentos. A indústria frigorífica produz a carne que o enfermeiro, que o médico comem, que a polícia come, e isso não pode parar”, afirmou o diretor-presidente. 
Propostas
      Mas, na mesa de negociação entre a empresa e os sindicatos, a situação é bem diferente. No primeiro encontro de negociação, o Marfrig apresentou uma proposta escrita com vários itens, entre eles ofereceu reajuste de 4% (bem abaixo da inflação), reduzir o valor da hora extra, do Adicional Noturno, dos domingos e feriados, minutos de preparo, cobrar 3% de transporte, aumentar o valor da alimentação (refeitório), entre outros itens. Os representantes sindicais pediram a reposição da inflação no período mais um aumento real e a manutenção das demais cláusulas. 
      No dia 5 de maio houve a “conference call” (conferencia via telefone) entre as partes para tentar definir o acordo. Desta vez o Marfrig ofereceu 4,30% (inflação do período). O Sindicato fez a contraproposta de um reajuste de 5% e a manutenção das demais cláusulas. Para os trabalhadores do Marfrig Bagé que recebem o Visa Vale, a empresa propôs um reajuste dos atuais R$ 223,74 para R$ 233,36. O Sindicato reivindica que o valor passe para R$ 250,00. A data-base dos trabalhadores do Marfrig é 1º de fevereiro – os trabalhadores estão há 16 meses sem reajuste nos salários.
Expectativa de “trimestres melhores”
      Outro detalhe importante, relatado pelo diretor-presidente do Marfrig na entrevista, é que todos os elementos para supor que esse resultado irá ocorrer nos próximos trimestres estão presentes. O lucro líquido nos primeiros três meses de 2020 chegou a R$ 32 milhões – em 2019 foi de R$ 4 milhões, num aumento de 643%. “Todas as nossas operações estão gerando caixa e gerando resultado e tudo indica que isso vai continuar nos próximos trimestres”, destacou Gularte. 
Ganhos em dólares
      Gularte também ressalta que o Marfrig, até o ano passado, tinha 50% da produção destinada para o mercado interno (Brasil) e 50% para o Exterior. Hoje, a exportação é responsável por 70% da produção. Embora a produção seja local, as exportações ocorrem em dólar, o que valoriza ainda mais a carne brasileira e gera lucro para a empresa. Além disso, a reabertura do mercado chinês – para onde o Marfrig tem seis plantas frigoríficas habilitadas para exportação ao país asiático – deve fazer com que a produção aumente. Gularte revelou que apenas 8% da receita do Marfrig é em reais – o que aumenta a responsabilidade da empresa em melhor remunerar seus funcionários. 
      “Estranhamos que, no momento de maior fragilidade do trabalhador, onde seu estado emocional também é afetado pela incerteza, o Marfrig  quer suprimir ou reduzir conquistas históricas do acordo coletivo de trabalho”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Bagé e Região, Luiz Carlos Cabral. As negociações continuam em aberto, mas o Sindicato espera que a empresa reconheça o esforço dos trabalhadores, que em momento algum durante a pandemia parou de trabalhar. “Não somos nós que dissemos que o Marfrig teve um lucro histórico, foi o diretor-presidente da empresa. Agora, esperamos que a direção do Marfrig tenha sensibilidade para não prejudicar ainda mais os trabalhadores, já atingidos em cheio pelas reformas trabalhistas e previdenciárias”, reforça Cabral.

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