sábado, 1 de dezembro de 2012

Trabalhadores de frigoríficos tem 80% de chances de adquirir doenças ocupacionais




A ajuda fabulosa do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), cerca de R$ 20 bilhões em três anos, garantiu lucros extraordinários aos grandes frigoríficos.  No entanto, ao mesmo tempo, os trabalhadores da indústria frigorífica estão no topo da lista entre as categorias que mais sofrem acidentes de trabalho e adquirem doenças ocupacionais, revelando a enorme exploração em que está baseada a riqueza desses empresários.
Os últimos dados divulgados pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação e Afins (CNTA) são esclarecedores. Cerca de 80% dos operários de frigoríficos sofrem com algum problema de saúde relacionado diretamente ao trabalho. Um índice verdadeiramente alarmante para qualquer categoria profissional.
Em nível nacional, os frigoríficos brasileiros envolvem mais de um milhão de trabalhadores, quase todos submetidos a um ritmo intenso de trabalho, a movimentos repetitivos e longas jornadas na fábrica, carente de equipamentos de proteção num ambiente insalubre tem levado muitos trabalhadores à doença e à mutilação, o que representa hoje, um grupo de 25% da força de trabalho no setor.
Segundo pesquisa da União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação (Uita), mais de 90% da exportação brasileira de carnes e aves é de produtos cortados em pequenos pedaços, e que, portanto, exigem grande número de movimentos repetitivos e acelerados. Estas condições, somadas ao frio dos locais de trabalho, são responsáveis pela verdadeira epidemia de enfermidades nos frigoríficos brasileiros.
Dependendo da atividade que o trabalhador exerce dentro da fábrica a situação é ainda pior. Os operários da higienização, que realizam a minuciosa limpeza de toda galpão e das máquinas utilizando produtos químicos altamente tóxicos é comum ocorrer acidentes envolvendo queimaduras graves. 
Já o trabalhador da desossa que exige um esforço mais repetitivo é alto o número de trabalhadores que desenvolvem doenças como as Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), podendo impossibilitar de ele continuar exercendo essa atividade depois de cinco anos, em virtude das condições do trabalho.
Na opinião do médico do Trabalho Ro¬berto Ruiz, este grande índice de aciden¬talidade e adoecimento na agroindústria está diretamente ligado à forma de organi¬zação do trabalho. "O sistema de ¬trabalho adotado pelas empresas deste segmento é extremamente prejudicial ao funcionário. Isso porque são jornadas diárias de mais de oito horas sem pausa, repetiti-vidade de movimentos, falta de equipamento de proteção e ritmo intenso de trabalho. A estrutura está errada e enquanto isso ocorrer, nada mudará", afirma.
Os dados, portanto, são bastante significativos em demonstrar a verdadeira escravidão que vive a categoria; o número extraordinário de acidentes e doenças está ligado diretamente ao método de exploração das empresas.
Os frigoríficos mantém o ritmo de trabalho, a forma de produção e os salários da categoria como do século XVII, XIX, no auge da industrialização europeia quando os trabalhadores não tinham qualquer direito, e a exploração não encontrava sequer limite legal. É necessário que os trabalhadores continuem se mobilizando e denunciando essa situação. 
Aqui vale recordar a realização do projeto Tecendo Estratégias Integradas de Ação em Saúde (TEIAS), realizda em parceria de sindicatos de Trabalhadores na Alimentação e CNTA. O resultado foi apresentado em fevereiro de 2011. Trabalhadores de Bagé foram ouvidos na pesquisa, realizada pelos professores  Paulo Albuquerque, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Francesco Settineri , do Instituto Itapuy. O foco principal é a possibilidade de construir públicas e sociais para melhorar a qualidade de vida e de saúde dos trabalhadores. 
Entre os principais dados daquela pesquisa o fato que os cinco principais itens de risco no ambiente de trabalho são; barulho (91,8%), exigência de rapidez (88,9%), repetição de movimentos (88,3%), quedas (87,1%) e umidade (85,4%).  Além disso 74,3% trabalham o tempo todo de pé, 69,3% ficam mudando de posição durante a jornada de trabalho para aliviar a dor e  43,9% chegam em casa sentindo um cansaço insuportável.  Dos trabalhadores entrevistados, 82,1% sentem as mãos dormentes sem motivo e 61,8% apresentam dificuldade para dormir. Ao todo 78,2% dos entrevistados afirmaram sentir dores constantes, isto é, sentem dor no trabalho, nas atividades do dia-a-dia e até quando estão dormindo. Braços (50,7%) e costas (48,6%) são as partes do corpo onde os trabalhadores mais sentem dor. Dos que sentem dores constantes, 64,6% consultaram um médico. Destes, 77,5% foram diagnosticados com LER/DORT . 

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